“Em primeiro lugar, não cause dano; se em dúvida, abstenha-se de intervir”.
Essa frase sempre significou muito para mim, desde meus tempos de estudante, e toda vez que vou atender um paciente me pergunto: será que não causarei mais danos que benefícios ao operá-lo?
Já escutei de um grande cirurgião: quanto mais eu sei, menos opero. E o mais interessante que a correlação com arte marcial é a mesma: quanto melhor é o lutador menos ele briga, não é?
Hoje, vejo que as três grandes características na arte da medicina são: a compaixão, o estudo e a humildade.
Ter compaixão é se compadecer, se colocar no lugar do outro e se perguntar como posso ajudar. É diferente de ter dó, ou agarrar o sentimento de tristeza, ou a dor para si.
Muitas vezes devemos aceitar que (nós médicos) somos falíveis, que a medicina não apresenta cura para todas doenças. Isto é muito difícil e deve se ter muita humildade para dizer ao paciente que não temos a cura para uma doença.
É neste momento que devemos ter um rigor científico, o estudo, não criar falsas esperanças e sugerir curas miraculosas.
O grande erro, na minha opinião, de um cirurgião, é dar um tratamento considerando apenas a doença, esquecendo das variáveis inerentes ao paciente: outras doenças, personalidade, ambiente familiar e social que a pessoa traz com ela.
Se explicamos detalhadamente o problema e quais as opções para amenizar a dor e o sofrimento, sem enrolação, e o porquê certas cirurgias são adequadas ou indicadas para uma pessoa, mas para outra não, alguns pacientes não sairão satisfeitos no primeiro momento, pois não foi o que ele esperava ouvir, mas com o tempo, se sentindo melhor, e com a expectativa correta do tratamento, eles ficarão satisfeitos.
E a recompensa no fim do dia: durmo com a consciência tranquila, satisfeito, pois tentei, ao máximo, dar o conforto a cada paciente. Ciente que se não pude curar, também não piorei, e amenizei a situação de alguém que veio me pedir por ajuda.