Confira meu artigo publicado na Gracie Magazine, renomada revista brasileira especializada no mundo do Jiu-Jitsu.
Dando a sequência ao texto que escrevi anteriormente, quem não conhece aquele cara nos tatames que não costuma bater em chaves ou em estrangulamentos? Alguns parecem de borracha e outros parecem que não tem dor, o pé vira ao contrário e nada. Vamos procurar entender.
O princípio do Jiu-Jitsu sempre foi atingir as partes mais vulneráveis do corpo, realizar torções e pressões em áreas especiais onde o corpo é mais fraco. Levar a articulação a uma posição não confortável, parar o fluxo sanguíneo, ou apertar em uma região mais sensível. Essas técnicas foram desenvolvidas por milhares de anos, primeiro na Índia, depois Japão e por fim no Brasil, por mestres como Carlos e Helio, que estudaram e testaram até entenderem os pontos fracos do corpo. Por isso nossa arte suave é tão eficiente. Mas porque algumas pessoas não batem?
Na minha experiência como lutador marcial há 40 anos, e médico há 22 anos, a genética, o treinamento e como cada indivíduo lida com a dor são os fatores principais. Existem sim pessoas mais alongadas. Esta característica é chamada de hiperfrouxidão ligamentar: são aquelas que o braço enverga e o cara não sente desconforto. No entanto, esta característica é uma faca de dois gumes, pois pessoas com esta condição tem a chance de deslocar mais facilmente os ossos das articulações, ou seja, um osso desconectar do outro e romper ligamentos. É o que chamamos na ortopedia de luxação de ombro, cotovelo, etc. Algumas pessoas tendem a ter menos sensibilidade, mas também existe o problema de se machucarem mais, pois o golpe pode passar do ponto.
Por isso, vejo que o treinamento, com certeza, é a chave para não bater toda hora. Quanto mais treinado, mais o lutador adquire alongamento, experiência e resistência à dor. E é por isso que mão de vaca não pode ser aplicado na faixa-branca, enquanto o mata-leão no pé e chaves de joelho só para marrons e pretas. É preciso experiência para receber esses golpes e saber o ponto certo para bater e não machucar.
Na luta, o alongamento é muito importante e todos sabemos que é só treinar que se adquire. Geralmente, 1/3 da aula que dou dedico ao alongamento e nos outros 2/3 se treina a força e a experiência para saber receber melhor os golpes. Mas é na forma como se lida com a dor que vejo ser o ponto que diferencia um lutador de outro. A dor existe, mas cada um lida com ela dependendo da personalidade, experiência, vontade de vencer. Não dá para esquecer, por exemplo, do Ronaldo Jacaré, que mesmo com o baço quebrado continuou lutando e venceuo Roger Gracie naquela famosa final do Mundial.
Campeões são forjados de várias formas e maneiras, mas passar por cima da dor é uma das grandes características destes indivíduos. E isso só vem com o treinamento do corpo e da mente.
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*Gunter Sgarboza é médico ortopedista, especialista em cirurgia do joelho e traumatologia do esporte. Professor faixa-preta desde 2008, campeão do Master & Senior do Rio 2011, vice-campeão do Pan – Los Angeles 2008 absoluto.