Devo realizar exames pré-treino para começar uma atividade física?

Existe uma situação bastante comum em meu consultório. Toda semana recebo um paciente pedindo atestado para poder realizar atividade física na academia, dizendo que o local exige, pois é lei.

Sempre que isso acontece, me lembro de algumas leis, como aquela que me obrigou a trocar todas as tomadas de casa e da clínica. Fico sempre com a leve impressão de que alguém está lucrando por trás dessas leis esdrúxulas!
Aliás, a lei de pedir atestado médico costuma ser municipal, então, em cada lugar funciona de uma forma diferente, você terá que checar onde mora. Nos Estados Unidos, por exemplo, é só assinar um termo dizendo que está apto a realizar atividade física.

Por isso, se você perguntar minha opinião sobre a obrigação de apresentar atestado para treinar, direi que não acho correto. Não acho que o governo deve lhe obrigar a realizar exames, você deveria realizá-los por livre e espontânea vontade. Porém, se me perguntar a respeito da importância de realizar exames para praticar exercícios, vou responder que é imprescindível!

Caso prefira não realizar exames pré-treino para iniciar uma atividade física, ninguém vai chamar a polícia para lhe prender. Mas que você deveria fazer os exames, deveria! Isso preveniria muitos problemas, inclusive a temida “morte súbita”. Contudo, a decisão e a responsabilidade devem ser suas e não do Estado, como ocorre nos EUA.

Quais exames devo fazer?

Vamos às especificações. Quais exames deveríamos fazer para estarmos seguros para realizar esporte?

Primeiro, gostaria de deixar claro que, mesmo realizando todos os exames possíveis e existentes, você não estará 100% seguro. Mas existe um consenso (entre e Sociedade Brasileira de Cardiologia e a de Medicina Esportiva) que diz: uma história clínica detalhada, um bom exame físico e a realização de um eletrocardiograma de repouso reduziriam em 90% os eventos de morte súbita. Ainda incluiria exames de sangue, urina e fezes.

História clínica

Uma boa história clínica nada mais é que um apanhado de perguntas que permitam detectar fatores de risco, sinais e sintomas sugestivos de doenças cardiovasculares, pulmonares, metabólicas ou do aparelho locomotor.

Basicamente, perguntar sobre episódios ocorridos durante a prática do exercício, se teve falta de ar, palpitações, dores no peito, desmaios, dores musculares ou algum desconforto.

Outro foco seria sobre o histórico familiar, se na sua família, ou entre os parentes próximos, existem casos de morte súbita antes dos 50 anos, doenças do coração, do sangue, diabetes, tudo isso é muito importante.

Exame físico

No exame físico, é preciso avaliar se a pessoa apresenta:

• Anemia;
• Alterações posturais;
• Encurtamento de músculos esqueléticos;
• Focos infecciosos (dentários, por exemplo);
• Doenças sistêmicas ou infecciosas graves;
• Obesidade;
• Hipertensão arterial sistêmica;
• Alterações da ausculta pulmonar e cardiovascular;
• Situações especiais como, por exemplo, a gravidez.

Eletrocardiograma de repouso

Um eletrocardiograma de repouso avalia muito bem a presença de doenças congênitas no coração – aquelas que você nasce com elas. Outros exames, como teste de esforço, ecocardiograma, teste cardiopulmonar (Ergoespirométrico), são exames necessários dependendo da avaliação inicial do médico assistente.

Confie no médico

Caros leitores, não quero aqui fazer uma lista para você chegar no consultório médico e dizer quais exames devem ser realizados, não é bem assim que funciona. O médico que está lhe avaliando é quem tem o poder de decisão.

Neste espaço, deixo somente uma opinião sobre como a consulta deveria ser conduzida, seguindo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Medicina do Esporte.

Aliás, já tive problemas e cheguei a perder amizades. Como eu disse, é muito comum me pedirem atestado dizendo que alguém está apto a realizar atividade física. Mas acredito que é sempre melhor que as coisas sejam feitas da forma correta. Melhor perder a amizade, que perder o amigo, não é mesmo?